Mesmo em seus piores momentos em Breaking Bad, Walter White (Bryan Cranston) sempre manteve uma base de apoiadores fiéis em torno de suas ações criminosas, e nem mesmo a onda de assassinatos no decorrer dos episódios parecia conseguir apagar toda essa afeição. Mas isso tinha um motivo. Desde que começou a criar suas drogas, ainda nos primeiros episódios, White já justificava suas ações em benefício da própria família, com o dinheiro supostamente sendo uma forma de dar estabilidade financeira agora que sua doença terminal havia sido descoberta.

Vítima dos infortúnios e de sua aparente devoção pela mulher e filhos, não é difícil entender por que muitos fãs estiveram ao seu lado durante boa parte do desenrolar dessa história, acreditando que nosso traficante, ao menos em algum momento de toda essa trama, realmente fizesse tudo isso em benefício de sua família, e que suas ações controversas tinham motivos parcialmente justificáveis por trás. Mas será que isso era mesmo verdade?

Personagem não era mal (mas ele estava longe de ser bom)

Breaking Bed
Protagonista da franquia estava longe de ser um santinho - AMC/Reprodução

Walter White não era um vilão – mas ele estava longe de ser o mocinho. Ainda que nosso professor tentasse justificar suas ações, fica claro que as frustrações envolvendo sua situação financeira, aliadas a suas ambições e descontentamento com o próprio trabalho, já faziam dele uma pessoa de opiniões questionáveis, mas que somente na doença encontraria a coragem necessária para agir conforme seus verdadeiros interesses.

E embora até aquele ponto ainda não tivesse colocado a vida de outras pessoas em perigo, seu sentimento de orgulho, aliado a inveja e ressentimento odioso pelo sucesso de Schwartz (Adam Godley), já indicavam um herói controverso e longe de uma simples vítima da situação, com seus atos futuros não sendo desencadeados por algo que ele viria a se tornar, mas por aquilo que ele sempre foi e apenas não tinha encontrado coragem de mostrar.

Walter White não se importava com a própria família (ao menos, não da forma que ele acreditava)

Breaking Bed
"Tudo pela família"? Não é bem assim! - AMC/Reprodução

Não foi pela família que Walter White se envolveu com as drogas. Embora utilizasse isso como argumento por boa parte do show, a verdade é que essa nunca foi a real razão para White fazer o que fez, com seu envolvimento com as drogas e outros criminosos locais, não apenas prejudicando a família da qual dizia querer ajudar, como ainda colocando seus filhos e a própria mulher em perigo em meio aos novos inimigos que não parava de criar.

Colocar sua família como a razão de suas ações era apenas mais uma forma de omitir suas reais motivações, enquanto dava uma justificativa aparentemente “plausível” para suas escolhas (ainda que questionáveis). Como admitiria no final do programa, Walter não entrou nessa história apenas por dinheiro ou qualquer sentimento benevolente, mas sim pelo poder que isso lhe dava.

White queria reconhecimento e poder muito antes de se envolver com drogas

Breaking Bed
Walter White encontrou o que procurava (e não era dinheiro) - AMC/Reprodução

O desejo de White sempre foi por grandeza e poder, e isso era algo que a metanfetamina dava a ele. Muito antes que sua primeira experiência com drogas acontecesse, White já era alguém em busca desse reconhecimento, com suas humilhações em meio a colegas e alunos apenas intensificando esse desejo. Walter começa a história imponente e desrespeitado, com sentimentos rancorosos por seus fracassos na carreira e pelo crescimento constante da Gray Matters da qual ajudou a fundar – mas que pulou fora antes que ela começasse a dar certo.

As coisas definitivamente não parecem ter dado certo para ele, e isso é algo que ele não consegue aceitar. Com a notícia da doença e dos riscos de uma vida encurtada, Walter quer se sentir reconhecido por algo, e encontra na metanfetamina uma forma para que isso aconteça. Quando a série finalmente chega ao fim e White decide falar a verdade, não é a família, sua doença, ou qualquer outra questão semelhante que ele encontra para justificar seus atos, mas seu puro e simples desejo de se sentir vivo – e foi somente sendo reconhecido que ele conseguiu sentir isso.