Clássico instantâneo desde que chegou às telonas, Planeta dos Macacos (1968) por muito pouco acabou não saindo do papel. Embora hoje o sucesso incontestável da saga deixe qualquer suspeita de lado, essa não era exatamente a visão corrente na época, com até mesmo o escritor original da obra, Pierre Boulle, se mostrando receoso quanto a uma possível adaptação para as telas.
A razão para isso, é claro, não seria infundada, com seu roteiro original e trama distópico futurista parecendo difícil de adaptar para os cinemas da época – principalmente quando levamos em consideração o mundo dominado pelos famosos primatas de sua história. Mas esse não foi o verdadeiro motivo para que o autor não estivesse muito animado com uma adaptação para as telas.
Por que Pierre Boulle não estava interessado em um filme de Planeta dos Macacos?
Embora pareça um desejo comum a qualquer escritor ter sua obra literária adaptada para o cinema, essa não era bem a realidade do autor de Planeta dos Macacos. Como explicado no documentário Behind the Planet of the Apes, a obra de Pierre estava longe de ser sua produção mais estimada, com o autor considerando seu livro como uma trama “de segunda linha” e que dificilmente alguém teria interesse em vê-la.
Além disso, o teor político da obra, junto de seu universo repleto de símios falantes andando por aí, não parecia a coisa mais simples para se adaptar para as telonas, com a maioria dos macacos da sétima arte até então sendo feitos com uso extensivo de stop-motion ou animatrônicos – algo que dificilmente funcionaria para as criaturas inteligentes que o autor queria representar.
Adicione a isso o fato do escritor já ter uma obra adaptada para o cinema (A Ponte do Rio Kwai) e a falta de interesse de Pierre logo pareceria compreensível. Felizmente, no entanto, as baixas expectativas do autor acabariam frustradas, com a desprezada produção de Pierre se tornando a obra mais famosa do escritor.
Como o filme superou as expectativas de Pierre (e do mundo)
Embora realistas, as críticas de Pierre se mostraram infundadas, com o longa de 68 conseguindo superar todos os desafios que uma adaptação para as telonas poderia apresentar. O teor político da obra, junto de suas críticas contra as guerras que se intensificavam na época, tornaram da produção um importante aparato de represália aos conflitos, além de mostrar o absurdo de toda aquela situação.
O mundo distópico futurista e suas cidades modernas também acabaria sendo completamente substituída em sua versão para as telonas, dando lugar a uma sociedade menos avançada, ainda que com seus habitantes primatas. A decisão, é claro, ajudou a baratear os custos que um universo mais desenvolvido poderia ter, além de reforçar ainda mais as críticas a nossa própria sociedade.
Como se tudo isso não bastasse, a aparência primata dos símios também se tornaria um ponto alto da franquia, com os efeitos inovadores de maquiagem criados por John Chambers sendo prestigiados até os dias de hoje. Graças a isso e às performances igualmente convincentes de seus atores, Planeta dos Macacos se tornaria um clássico incontestável de audiência – mesmo que nem seu autor acreditasse nisso.
Os receios de Boulle se mostrariam fundados 30 anos depois
Apesar do estrondoso sucesso da saga original, os receios de Pierre Boulle se comprovariam anos mais tarde, quando Tim Burton tentaria levar nossos símios novamente para as telonas. Diferentemente da franquia dos anos 60, o Remake de Planeta dos Macacos (2001) acabou encontrando fortes críticas em sua produção, com o enredo pouco envolvente e uso de efeitos computacionais para a criação de alguns dos símios não agradando o público – principalmente quando levamos em conta a franquia principal.
As decisões impactariam diretamente na saga dos primatas, com a franquia de Pierre só voltando aos holofotes uma década depois, quando o então diretor Rupert Wyatt voltaria ao mundo dos macacos e exploraria o passado dessa trama distópica. Boulle, afinal, poderia estar parcialmente certo dos perigos dessa adaptação – mas apenas alguns anos adiantado.