Mais de 20 anos se passaram, mas a pergunta se Jack caberia ou não na “porta” de madeira segue mais atual do que nunca. Essa certamente parece ser uma daquelas coisas que nenhum fã conseguiu aceitar até hoje, com o naufrágio do Titanic e a morte do nosso herói improvável para as águas gélidas do Atlântico sendo um desfecho difícil de ser superado – principalmente com um abrigo flutuante tão próximo de nossos olhos.

O roteiro, é claro, insistiria em dizer que Jack não poderia subir na jangada improvisada sem que ambos acabassem à deriva no mar, mas a verdade é que essa solução nunca convenceu muito bem. Mas afinal, quem estava certo nessa história?

Diretor já admitiu que Jack poderia ter sobrevivido (não fosse um detalhe importante)

Titanic
O diretor James Cameron, Leonardo DiCaprio e Kate Winslet nos bastidores de "Titanic" (1997) - Paramount Pictures/Reprodução

Após anos de discussões e reviravoltas mal resolvidas, Cameron teria algumas oportunidades para falar sobre o assunto, encontrando uma boa dose de argumentos para tentar corroborar sua decisão. Na época, até mesmo os famosos Caçadores de Mitos tentariam contrariar nosso cineasta, provando que um engenhoso truque com os coletes salva-vidas e a jangada improvisada seriam suficientes para que Jack e Rose pudessem flutuar sobre as águas. Mas eles não parecem ter conseguido convencer nosso cineasta.

Falando ao The Daily Beast sobre o assunto, Cameron abordou as escolhas dos Caçadores de Mitos quanto a jangada, e como a decisão dificilmente poderia ser tomada por alguém naquelas condições. Segundo o diretor, tirar o colete e amarrá-lo em volta da tábua, como havia sido sugerido pelos apresentadores, não seria algo humanamente possível de ser alcançado, principalmente com as temperaturas negativas do Oceano Atlântico.

“Vamos imaginar a situação: você é o Jack e está na água a -2ºC, quando seu cérebro começa a ser afetado pela hipotermia. Os Caçadores de Mitos pedem a você que retire seu colete salva-vidas, retire o dela, nade por debaixo da tábua, prenda os coletes de alguma forma que eles não se soltem dois minutos depois — o que significa que você estará debaixo d’água amarrando esse negócio sob uma temperatura abaixo de zero, o que levaria entre 5 e 10 minutos. Ou seja, quando você for voltar, já estará morto. Então isso não funcionaria. A melhor opção para ele era manter a parte superior do seu corpo fora da água e esperar que um barco ou qualquer outra coisa o retirasse do mar antes de morrer.”

A resolução definitiva para o caso, no entanto, só aconteceria em 2017, quando Cameron aparentemente se cansaria das discussões e daria uma resposta menos diplomática a Vanity Fair. Segundo o diretor, Jack não poderia ter sobrevivido por uma questão muito mais simples do que hipotermia: o roteiro. “O roteiro diz, na página 147, que Jack morre. Muito simples… o filme é sobre morte e separação; ele tinha que morrer. Assim é a arte, as coisas acontecem por motivações artísticas, não físicas.” Apesar de não ser exatamente a resposta que todos gostariam de ouvir, ela parece bem convincente.

Essa não era a única forma de Jack ter sobrevivido

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Leonardo DiCaprio e Kate Winslet em "Titanic" (1997) - Paramount Pictures/Reprodução

Apesar de óbvio, subir na porta de madeira não era a única forma para Jack escapar com vida daquela situação. Além dela, uma maneira mais simples envolvia o uso dos subestimados coletes salva-vidas, que permitiriam ao nosso herói gastar menos energia enquanto aguardava pelo resgate. Rose, que estava sã e salva sobre a jangada improvisada, vestia um colete salva-vidas que poderia facilitar a vida de nosso protagonista, mas que curiosamente acabaria não sendo utilizado. A teoria seria inclusive discutida por Cameron, que não negaria a eficácia dessa possível abordagem, mas também não faria grandes comentários sobre o assunto.

E ainda falando sobre coletes, é claro que a análise dos famosos Caçadores de Mitos também poderia ser levada em consideração, com o uso dos coletes salva-vidas amarrados sobre a jangada aparentemente podendo funcionar, embora ninguém discorde que essa não é lá a solução mais simples de todas – principalmente no friozinho do Atlântico.

Talvez se Rose também não tivesse negado dividir o bote salva-vidas com Cal, essa história poderia ter terminado de uma forma bem diferente, com nosso herói da terceira classe não precisando escolher entre sua vida e a da amada para ficar sobre a jangada. Sozinho, Jack estaria livre para priorizar sua vida, e Rose não precisaria ter passado por todos os seus percalços em alto-mar. Mas quem poderia imaginar que ficar em um navio naufragado poderia dar tantos problemas?

Outra razão também impediu que Jack sobrevivesse – e a culpa era inteiramente dele

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Leonardo DiCaprio e Kate Winslet em "Titanic" (1997) - Paramount Pictures/Reprodução

A personalidade de Jack também foi um impeditivo para que ele pudesse ser salvo. Quando fez sua primeira tentativa de subir na jangada, Jack logo desistiu da ideia pelo simples fato dela cambalear com seu peso. O jovem não tentou novamente e sequer estava preocupado em fazê-lo pois colocar a vida de Rose em perigo era algo que sua personalidade simplesmente não permitia que o fizesse – mesmo que isso representasse colocar a própria vida em risco.

Mais do que uma escolha narrativa, Jack não parece ser do tipo de pessoa que pediria para Rose correr riscos, priorizando a vida da amada até mesmo quando a própria se encontrava em risco. Pela mesma razão, Jack jamais pediria para Rose tirar o colete, mesmo que isso representasse uma chance dele sair com vida dessa história. No final, seu único desejo era que ela saísse com vida de toda aquela situação, algo que seus esforços definitivamente conseguiram alcançar – ainda que isso custaria o preço de sua própria vida no processo.

Jack caber ou não na porta nunca foi uma questão (ao menos, não para a história)

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Leonardo DiCaprio e Kate Winslet em "Titanic" (1997) - Paramount Pictures/Reprodução

Cameron já deixou claro que a morte de Jack era importante para a trama, sendo fundamental para o desenvolvimento da protagonista e sua mudança ao longo de toda a jornada. Graças ao personagem, Rose entenderia mais sobre o amor, os sacrifícios, e o verdadeiro preço de todos esses sentimentos, e que, no fim das contas, riqueza nem sempre tem a ver só com o dinheiro. Jack serviu como um paralelo constante contra a visão de Cal e a riqueza, e provou que haviam outras coisas das quais Rose abriria mão caso aceitasse aquele caminho.

Quando o Titanic afundou e levou Jack com ele, não foi apenas seu eterno amor que foi embora, mas também suas antigas certezas. Agora sem Jack e com Cal longe do seu caminho, Rose tinha a oportunidade de mostrar tudo o que havia aprendido, vivendo uma vida feliz e longeva ao lado de uma nova família que amava. Jack, embora possa não ter saído a salvo do Titanic, foi o principal responsável por esse tão merecido final feliz.