Elogiado por sua atenção aos detalhes, Ford vs Ferrari nem sempre foi tão fiel à realidade. Apesar de amplamente reconhecido por sua precisão com a história real, algumas mudanças para o filme também precisaram acontecer, seja modificando a personalidade de seus personagens, ou até mesmo mudando eventos históricos inteiros para o desenrolar da história – e com Ken Miles não seria diferente.
Interpretado pelo camaleão dos cinemas, Christian Bale, Miles é apresentado como um piloto excêntrico e talentoso, responsável por pilotar e testar os automóveis da icônica montadora de carros da Ford. Infelizmente, o personagem acaba encontrando um destino trágico no fim, quando se envolve em um acidente de carro e perde sua vida na pista. Apesar de lamentável, essa não foi uma invenção para o filme, já que na vida real o verdadeiro Ken Miles também enfrentou uma situação semelhante nas estradas. Mas nem tudo aconteceu exatamente como foi mostrado.
Como o verdadeiro Ken Miles morreu – e como isso aconteceu no filme

Na vida real, Ken Miles morreu dois meses após disputar a Le Mans de 1966, quando testava um novo veículo da Ford (J-Type). O acidente aconteceria no autódromo internacional de Riverside, na Califórnia, com o carro em que Miles estava capotando e pegando fogo. Com a força do impacto, o piloto seria arremessado na pista, morrendo instantaneamente no local. Apesar das divergências envolvendo o acontecido, a causa exata do acidente nunca foi explicada.
No filme, no entanto, Miles morre após problemas mecânicos, com a falha do freio fazendo com que ele perca o controle e saia da pista. Embora o momento não inclua uma cena próxima ao acidente, tudo indica que a explosão e o impacto da batida tenham sido os causadores da morte do piloto, e não uma possível ejeção do motorista ou o capotamento do carro na estrada.
Por que Ford vs Ferrari muda a forma como Ken Miles morre no filme?

Diferentemente da vida real, Ford vs Ferrari muda os acontecimentos quando implica uma falha mecânica ao acidente, uma vez que a causa real para o ocorrido nunca tenha sido devidamente explicada. A decisão de culpar a falta de freios não parece aleatória, já que preserva o status de piloto “infalível” de Miles enquanto mantém a história próxima dos eventos reais. Além disso, a escolha também vai de encontro com a opinião dos próprios amigos do corredor, que após o acidente de Miles diriam que o problema não poderia ter sido “resultado de um erro de sua parte” (via Road&Track).
Essas e outras mudanças envolvendo o Miles de Bale e a morte do verdadeiro piloto da Ford, serviriam para aumentar o impacto emocional da história – principalmente no que se refere à situação familiar do próprio corredor. Não à toa, o filho de Miles, Pete (Noah Jupe) e seu amigo, Carroll Shelby (Matt Damon), também estariam no local do acidente, presenciando o ocorrido e intensificando ainda mais a carga dramática do momento. Ford vs Ferrari, embora tente se manter próximo aos fatos reais no decorrer da história, não fica preso ao formato mais sério de um documentário, adaptando e modificando os eventos conforme as necessidades aparecem – mesmo que isso implique mudar um pouco alguns acontecimentos.
Filme faria aceno ao fim trágico do piloto muito antes do acidente

A morte trágica de Ken Miles seria prenunciada na metade do longa, quando o piloto escaparia por pouco de um acidente semelhante ao que o levaria mais tarde. Na cena, após seu veículo perder os freios e o carro pegar fogo, Miles é socorrido às pressas do acidente, sendo recebido por sua esposa Mollie (Caitríona Balfe) e seu filho Pete completamente assustados. No final do filme, a cena volta a se repetir, mas agora sem que sua família ou amigos possam fazer qualquer coisa para salvá-lo.
Assim como em outras situações, o evento que prenuncia sua sina não parece ter sido embasado em um acontecimento real, mas colocado ali como uma forma de adicionar um tom de dramaticidade para a produção. A cena, é claro, também serve para mostrar os perigos relacionados a esse tipo de profissão, e o quão longe Ken Miles estava disposto a ir por aquilo que acreditava – mesmo que a conclusão não seja das mais encorajadoras.