Lançado em 12 de setembro de 1979, Mad Max é provavelmente a distopia menos distópica que a franquia pode lançar. Em parte pelo teor da obra, parte pelo baixo orçamento da produção (cerca de US$ 350 mil na época), George Miller apresenta aqui um universo ainda embrionário, vítima de uma crise mal explicada em uma Austrália já cambaleante. Seu protagonista, Max Rockatansky, interpretado pelo jovem Mel Gibson ainda no início de carreira, faz as vezes do policial rodoviário controverso, vítima de infortúnios e que busca vingança por sua má sorte.
Ainda que a trama possa parecer batida, Miller foge do papel de vítima comumente dado a esse tipo de herói azarado, que usa da perda como justificativa para se tornar um anti-herói (supostamente) justificável. Aqui, Max não é apresentado apenas como a vítima de um mundo a beira do declínio, mas como parte desse mesmo problema. “Mad”, nesse sentido, não nasce dos infortúnios de sua história traumática, mas já está lá muito antes que qualquer gangue dos motoqueiros atingisse ele ou seu círculo familiar.
No entanto, embora ambientado em uma Austrália distópica e violenta, Mad Max parece não encontrar tempo (ou meios) para desenvolver seu universo, com o mundo inóspito e já característico da franquia se apresentando aqui de forma pouco ameaçadora. Embora as ameaças ainda estejam lá, sob duas rodas e um punhado de motoqueiros loucos, o perigo de um mundo que beira o colapso não parece mais tão perigoso, com uma civilização (embora em declínio), ainda diante de um sistema de leis (embora corrupto) e uma força policial ainda na ativa (embora questionável). Isso, é claro, não chega a afetar a história, mas também está longe de ajudá-la no desenvolver da trama de seus personagens, que parecem desconhecer fazerem eles próprios parte de um mundo tão perigoso.
A distopia aqui parece servir apenas como um artifício de roteiro, justificando seus absurdos e tentando se distanciar assim da nossa realidade, numa aparente tentativa de deixar tudo “mais palatável”. O gosto, no entanto, pode ser amargo, com o mundo distópico não convencendo e sua suposta escassez de combustível parecendo absurda em meio a tantas perseguições. As organizações policiais e judiciárias, assim como seu sistema hospitalar longe de defasado, também não ajudam na hora de justificar o suposto declínio dessa sociedade cambaleante. Para um mundo que beira o colapso, Mad Max parece uma distopia utópica ainda embrionária, em um contrassenso que somente uma mente como a de George Miller poderia conceber.